quinta-feira, 22 de janeiro de 2015


INSETOS MESTRES DO DISFARCE


Fato comum já observado em diversas espécies de insetos é a estratégia da camuflagem, que possibilita aos indivíduos passarem despercebidos no ambiente onde vivem e assim escaper do apetite de seus predadores. Também pode ser a estratégia usada por predadores que aguardam suas inadvertidas presas. Alguns se disfarçam imitando a planta hospedeira onde vivem, copiando forma, cor e padrão de folhas, ramos e flores. Algumas espécies desenvolveram um intrigante mecanismo de mimetismo que copia as cores e formas de outras espécies que são impalatáveis e até mesmo outros grupos de animais como cobras, aranhas e corujas, que são reconhecidamente peçonhentos ou predadores vorazes, e com isso, apropriam-se da técnica de seus vizinhos. Em muitos casos até o comportamento da espécie modelo pode ser imitado. São todos exemplos de adaptações que evoluíram com a convivência constante com um modelo e que contribuem vantajosamente para a sobrevivência da espécie.


                          
                               Um exemplo de disfarce: lagarta serpente

Porém, um caso curioso e que chama bastante atenção pelo seu aspecto inusitado foi recentemente publicado no periódico Journal Evolution pelos Drs. Naomi Pierce e David Lohman que estudaram o comportamento de uma lagarta da Família Lycaenidae: Lepidoptera. Essa lagarta aparentemente inofensiva e indefesa é, na verdade, predadora e uma eximia mestre do disfarce. Usa de sua fragilidade aparente para predar formigas. Eles descobriram que a lagarta quebrou o código de comunicação das formigas produzindo um cheiro que imita o odor corporal da presa e assim sendo, é tratada como tal, sem ser molestada. A lagarta inicialmente se alimenta de plantas e quando alcança o quarto estágio deixa-se cair ao solo, sendo levada para o interior da colônia onde é bem tratada e alimentada pelas formigas. Disso se aproveita a lagarta para devorar larvas das formigas ao seu redor. Posteriormente, antes de se tornar adulta e alada, a borboleta tem de deixar o formigueiro rapidamente. Outro grupo de lagartas predadoras da mesma família, usa de uma estratégia semelhante: imita o odor de pulgões-de-planta que produzem o “honeydew”, substância açucarada excretada pelos pulgões e avidamente disputada pelas formigas doceiras. Desta forma as lagartas são tratadas como boas amigas, mas na verdade são “ovelhas em pele de lobo”.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015


INSETO ATÉ DEBAIXO D’ÁGUA

Apesar do predomínio dos insetos no ambiente terrestre, muitas são as espécies que utilizam o meio aquático para sua sobrevivência e desenvolvimento de, pelo menos, uma das fases de vida. O certo é que em 13 ordens de insetos a fase jovem ou a fase adulta (ou ambas) é aquática ou semiaquática e nas ordens Ephemeroptera, Plecoptera, Trichoptera, Odonata e Megaloptera todas as espécies são aquáticas. Muitas espécies são predadoras alimentando-se sobre outros insetos e crustaceos, pequenos peixes ou anfíbios, entretanto outras utilizam algas ou detritos e sedimentos.

A vida na água requer muitas adaptações dentre as quais, a obtenção de oxigênio. O sistema de ventilação dos insetos formado por espiráculos e traqueias sofreu algumas modificações para facilitar a aquisição do oxigênio no meio liquido. A mais importante delas se refere a diminuição do número de espiráculos e a adaptação desses a tubos ou sifões que emergem na superfície quebrando a tensão superficial da água (percevejos da família Nepidae e larvas de mosquitos).


          A náiade de libélula faz trocas gasosas através de guelras anais.

As espécies que mantiveram todos os espiráculos funcionais adaptaram um modo de aprisionar uma bolha de ar debaixo da asas da qual extraem o oxigênio necessário a sua sobrevivência (adultos das famílias Hydrophilidae e Dytiscidae – Coleoptera). Nas espécies verdadeiramente aquáticas um filme de ar (plastrão) e mantido permanente junto ao corpo graças a existência de uma micropilosidade que segura essa tênue bolha junto ao corpo realizando a troca de gases e mantendo a concentração necessária de oxigênio.

Finalmente, existe um grupo de insetos que apresenta o sistema traqueal fechado e portanto, depende unicamente da difusão do oxigênio dissolvido na água através do sistema traqueal. Para tanto, essas espécies se adaptaram para aumentar a superfície de contato com a água desenvolvendo evaginações do tegumento que são permeadas por traqueias. Elas estão presentes na lateral do corpo (tórax e abdome) como nas efemérides ou na extremidade como em algumas ninfas de libélulas e são denominadas de brânquias traqueais. Insetos não tiveram sucesso na colonização do habitat marinho e exceto pelos percevejos da família Gerridae, a maioria das espécies somente é encontrada na zona intertidal, entre a alta e a baixa maré.